domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates

O ano era 1982. Meus pais viajaram para fora do país e nós, eu e meus irmãos, passamos um mês na casa de minha avó Henriqueta. Eu tinha 5 anos, meu irmão 4 e minha irmã 2. Era a primeira vez que ficaríamos tanto tempo longe deles. O mês era junho e, para quem não sabe, durante este período houve a Copa do Mundo realizada na Espanha.

Minha família sempre flertou com o futebol. Meu avô, Zezinho Magalhães, marido da dona Henriqueta, exerceu o cargo de presidente do XV de Jaú na década de 1950, segundo time de todos nós da família. Zezinho Magalhães também era o nome do Estádio do XV, projetado por Artigas — como prefeito de Jaú, viria a chamá-lo para o projeto da rodoviária local e pelo CECAP —  junto com Paulo Mendes e Fábio Penteado —, para o projeto do conjunto habitacional, em Guarulhos, que levou seu nome após sua morte em 1969.

Na casa de minha avó morava também minha tia Elza, arquiteta. Foi ela provavelmente a minha principal referência para ter desenvolvido o gosto pela arquitetura — trazendo consigo esta herança do meu avô com o Artigas.

Apesar das memórias que tenho desta época serem muito escassas e nem sempre claras, há momentos que ficaram retidos. Lembro de gastar horas com as páginas de esporte dos jornais analisando cada gol que saia na copa a partir de infográficos que ilustravam cada jogada, o movimento da bola e dos jogadores. Não me recordo muito dos jogos, apesar de parecer muito próxima a decepção na derrota para a Itália, de Paolo Rossi, por 3 a 2.

Dentre todas as memórias, imagens e sensações que vivenciei nesta época, e as que ainda lembro não são muitas, uma delas ficou presente para sempre. Quem me contou foram meus pais pois eu não tenho isso muito claro. Eu apenas vivo as consequências. Segundo eles, eu fiquei encantando com um jogador magro, de nome diferente. Sócrates.

Um jogador de classe, toques precisos e comemoração única. Atitude de craque dentro e fora de campo, participou ativamente do movimento das Diretas Já, politizado, era médico formado e jogava futebol por amor. Fora de série.

Daí para virar corintiano não foi necessário nenhum esforço.
Eu gostava do Sócrates e ele do Corinthians.

Na minha família não havia um corintiano sequer. Minha avó era são paulina, meus tios, tias, primos e primas todos são paulinos ou palmeirense. Eram mais de 10 adultos e mais de 10 primos. A maioria São Paulo e uma outra parte Palmeiras. Meu pai era são paulino, assim como meus irmãos. Minha mãe era palmeirense. Mas eu era — e sempre fui segundo meus pais — a ovelha negra.

Mas não era por isso...

Aquela era a época da Democracia Corintiana, algo inédito no futebol e o magrão era o grande mentor deste movimento. Lembro também dos gols da goleada de 10 a 1 contra o Tiradentes (PI) em 1983, a maior goleada em campeonatos brasileiros da história. Sócrates fez 4, dois de pênalti, um invadindo a área e um de falta, indefensável. Vale destacar o gol de voleio do Ataliba e o de bicicleta do Wladimir — pinturas.

Houve também os títulos paulista de 82 e 83 e posteriormente outros ídolos que viriam a vestir a camisa alvinegra. Assisti a todos os campeonatos brasileiros vencidos pelo meu time, inclusive o de hoje, o quinto.

A relação com o Corinthians é algo ímpar na minha vida.

Eu sou uma pessoa muito racional. Muito mais racional do que eu gostaria. Admito. Mas o futebol e, principalmente, minha relação com o Corinthians são uma das poucas sensações que ignoram essa minha racionalidade — que quase sempre aprisiona determinadas sensações — e me colocam em um estado emocional à parte.

Para mim é inexplicável. Irracional. Seria impossível descrever para qualquer torcedor de outra agremiação o porquê do nível de adrenalina que circulou pelo meu corpo assim como os centímetros que roí de meus dedos em uma vitória tranquila sobre o XV de Piracicaba em pleno Pacaembu. Pra ser sincero nem eu quero saber. Quem não gosta de futebol então, deve tirar até sarro.

A vitória ou a derrota são meros detalhes.
O importante é sentir seja lá pra que lado a sensação apontar.

Dentro da minha racionalidade nunca me aventurei em racionalizar sobre essa sensação pelo simples fato de que ela é grande e forte o suficiente para que eu a mantenha desta forma, pura, sincera e, acima de tudo, sensação. É um momento de descontrole que prefiro continuar sentindo.

Mas tem um ponto que já tentei decifrar várias vezes.
Porque o Sócrates?

Depois de muito racionalizar não foi difícil encontrar nas suas atitudes milhares de motivos para que eu me apaixonasse pelo seu jeito de jogar, comemorar, agir dentro e fora de campo. Fazia sentido. Eu era corintiano por causa do Sócrates e tudo o que ele representava e fazia era o suficiente para que, não só eu mas, milhares de torcedores, também simpatizassem com o Corinthians.

Porém, ultimamente, eu venho tendo uma outra abordagem. Principalmente por acompanhar o desenvolvimento de minhas filhas. Uma perspectiva diferente e, pensando melhor, muito mais plausível do que toda essa racionalidade para um menino de 5 anos.

Percebi que não era apenas o nome que o diferenciava dos outros jogadores daquela seleção de 1982. E no fundo, foi outra diferença que, ao meu ver, me cativou. A barba. Eu que sempre cultivei a minha. A mantenho desde que ela começou a crescer de uma forma mais organizada. Nem lembro como é meu rosto sem ela.

Mas não é para isso levar à dedução que eu a tenho por causa dele.
Definitivamente não.

Apesar de taxado de ovelha negra, meus pais nunca tomaram nenhuma atitude para eu deixar de lado a opção alvinegra e migrar para um dos dois tradicionais times da família. Entenderam minha escolha e até hoje gabam-se de não terem influenciado. Deixaram-me escolher aquele time com o qual me identifiquei.

Mal sabe meu pai que, no fundo, eu sou corintiano por sua causa. Eu não tinha saída. No meu arquétipo de adulto a barba era um pré-requisito. Você cresce e a barba cresce junto. É ele quem tinha barba. Sempre teve. Ele também não sabia como era mais o seu rosto até cortar a barba anos atrás e decidir nunca mais cometer esta heresia. Tudo bem que meu pai na época era bem gordo e o Doutor, pelo contrário, um pau — que nem eu.

É que naquela Copa, em que estavam longe, acho que o Sócrates me fez senti-lo um pouco mais próximo. Acho que essa sensação é a razão de eu ser corintiano. Por influência direta do meu pai.

Obs. Está certo que o Júnior também tinha pelos no rosto — e jogou um bolão —, mas eu olhei para o Sócrates.


Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
Belém, 19 de fevereiro de 1954 – São Paulo, 4 de dezembro de 2011

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

NET ou VIVO?!?!?

Ontem meu telefone da NET parou de funcionar. Liguei na central de atendimento, eles identificaram meu número, perguntaram qual era o problema, se eu já tinha desligado e ligado o aparelho. Sempre nos dígitos 1, 2 ou 3 e ouvindo o computador a cada tecla pressionada.

E não é que a nova regra de telemarketing estava surtindo efeito.
As perguntas eram objetivas e rápidas e em pouco tempo anotei o número de protocolo — 003100302992974 — quando aquela voz, agora masculina, disse que ia me transferir naquele mesmo instante para um atendente. Uma maravilha.

Pois bem, o atendente da NET me passou para a VIVO.
Juro! Liguei na NET e cai na VIVO!!!

sábado, 19 de junho de 2010

Sou eu o arquiteto?

Estava em casa com a Anita na tentativa de assistir ao jogo da Itália contra Paraguai pela Copa da Mundo. Pergunta: como conseguir assistir ao jogo sem que ela me trouxesse o controle da televisão para colocar os Backyardigans?!? A solução para entretê-la foi trazer seus blocos coloridos de madeira para a sala. Ufa!

Normalmente nossa brincadeira com os blocos é a seguinte: eu, arquiteto, monto estruturas altas para ela, godzilla, destrui-las com três movimentos precisos seguidos de uma espécie de grito de guerra — acho que ela aprendeu isso com o kung-fu panda.

Naquela ocasião, entretanto, era eu, torcedor, e ela, arqueóloga. Brincava com os blocos estudando minusciosamente seus formatos e equilíbrios. Estávamos, todos, atingindo seus objetivos. Eu, ela e o Paraguai — ganhava de 1x0.

Enquanto eu torcia para os sulamericanos continuarem surpreendendo a baixinha estava quietinha. Cada um no seu mundo paralelo.

Pois não é que quando olho para trás a pequena havia construído um castelo incrível!
Arqueóloga ou arquiteta?!?

O mais difícil foi correr pra pegar a câmera antes que o godzilla chegasse.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Creme de palmito ou aspargos

valderez diz:
QUE SOPA VAI SER HOJE?
renato diz:
ainda nao decidimos o jantar
renato diz:
mas combinamos que sera bom
valderez diz:
PODE SER UM CREME DE PALMITO COM PÃO QUENTINHO
renato diz:
como faz?
valderez diz:
TENHO CERTEZA
valderez diz:
FÁCIL FÁCIL
valderez diz:
VC TEM PALMITO?
renato diz:
nao, mas compro
valderez diz:
LEITE?
valderez diz:
É ASSIM
renato diz:
o que precisar eu compro
valderez diz:
UMA LATA DE PALMITO CORTADO EM PEDAÇOS (À SUA DECISÃO); CEBOLA; MARGARINA; MAIZENA; CALDO DE GALINHA; LEITE; QUEIJO RALADO
valderez diz:
SERIA SÓ PRA VOCES DOIS?
renato diz:
sim...
renato diz:
caldo de galinha?
valderez diz:
CALDO DE GALINHA
renato diz:
porque nao usaria caldo de legumes?
valderez diz:
NUMA PANELA COLOQUE UMAS DUAS COLHERES (SOPA) DE MARGARINA
valderez diz:
COLOQUE UMAS TRÊS COLHERES DE CEBOLA PICADINHA E FRITE
valderez diz:
COLOQUE UM CUBO DE CALDO DE GALINHA E MEXA
valderez diz:
PEGUE MEIA LATA DE PALMITO CORTADO EM CUBOS E PÕE NO REFOGADO
renato diz:
por que nao usa caldo de legumes? fica ruim?
valderez diz:
ACRESCENTE MEIO LITRO DE LEITE E UM COPO DE ÁGUA - DEIXE FERVER
valderez diz:
ACHO QUE NÃO FICA RUIM, SÓ QUE FICA UM CREME TEMPERADO COM LEGUMES E NÃO COM UMA CARNE, QUE É MAIS SUBSTANCIOSA.
renato diz:
mas para isso não seria o caldo de carne?
renato diz:
a galinha é mais suave?
renato diz:
eu queria fazer o meu caldo. É complexo?
valderez diz:
EM SEPARADO PEGUE MEIO COPO DE ÁGUA E DOIS COLHERES DE SOPA DE MAIZENA, MISTURE BEM E COLOQUE NO REFOGADO PRÁ ENGROSSAR.
valderez diz:
TANTO FAZ GALINHA OU CARNE - EU PREFIRO GALINHA - NUNCA COMPRO CARNE
renato diz:
a base é muito importante e normalmente reduzida a um cubo industrializado
renato diz:
coloco essa loucura depois de ferver?
valderez diz:
DEPOIS DO CREME ENGROSSADINHO, AO SERVIR VOCE JOGA QUEIJO RALADO
renato diz:
cebolinha?
valderez diz:
PODE SALPICAR ELA BEM MIUDINHA - DEVE FICAR JOIA - NUNCA FIZ
renato diz:
muito bom
renato diz:
vou ao mercado entao
renato diz:
bjs
valderez diz:
A MESMA RECEITA DÁ PRÁ FAZER CREME DE ASPARGOS

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Aquecendo os motores...

Noveau American Brazilian Girls
11th Dimension Julian Casablancas
Crystalised The XX
Gamma Ray Beck
Crimewave Crystal Castles
Courtship dating Crystal Castles
Beautiful song Cansei de ser sexy
After Dark (Morel's vocal) Le tigre

domingo, 24 de janeiro de 2010

Lenda de pescador

Muitas vezes uma história é denominada lenda de pescador em função de uma certa distância desproporcional entre o relato e a realidade. A solução para estes casos é o relator provar que sua história é real. Pois bem, não só estou provando que minha história não é mais uma lenda de pescador como estavam lá, o joãozinho e outros estrangeiros para comprovar que o peixe que eu pesquei em uma cachoeira em São Sebastião era realmente diferente...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Dois irmãos



O matemático, e também o rapaz altivo e circuspecto que não dava bola para ninguém; o enxadrista que no sexto lance decidia a partida e assobiava sem vontade um soprinho de passarinho rouco, antevendo o rei acuado. Derrotava o adversário emitindo esse assobio irritante, anúncio do inevitável xeque-mate...

O trecho é do livro Dois irmãos, de Milton Hatoum e publicado pela Companhia das Letras.

A imagem é de uma partida entre Gary Kasparov e Magnus Carlsen. O segundo, menino, é mestre desde os 13 anos e agora, aos 19, é a pessoa mais jovem a liderar o ranking desde que ele foi criado em 1971. Ele bateu o recorde que pertencia ao seu atual técnico, o primeiro, Gary Kaspavov.